Gosto de sorrisos miúdos, mas prefiro aqueles largos. Gosto de vocativos longos e mentirosos, que nem amor da minha vida. Gosto de quem tem sempre coisa nova: uma notícia, uma viagem, uma história, uma ideia. uma mentira, tem nada não. Gosto de que mal possam esperar para me contar. Gosto de quem me ultrapassa, mas me convida.
Quem é bonito sem ser obviamente bonito, gente em quem a gente encontra boniteza nova todo dia. Gosto de que leiam, mas que também escrevam - não muito, o raso e suficiente para se mostrar bom, mas sem tentar demais. Gosto de quem não gosta de platéia, mas anseia diariamente para ser reconhecido. Gosto mais ainda de quem se reconhece. Gosto de gente alegre que também gosta de ficar só.
Gosto de gente com marcas. Braços e cotovelos mal costurados, resquícios de uma infância inquieta. Gosto que me mostrem cicatrizes e que tenham uma bela história para justificá-las, gosto de gente que tem sinais, como aquele que trago no pescoço.Tatuagens me enternecem como enterneciam os joelhos esfolados salpicados de merthiolate. Gosto de gente que sabe onde dói.
Gosto de quem sorri assim, com os olhos fechados, quem sorri sem olhar para aquilo que causou o sorriso. Gosto dos que aceitam desafios inúteis, dos que tem um quê de irracionais quando chamados a disputas pequenas, guerras particulares, bobas, ainda mais com esse frio que tem feito em nossas casas. Gosto de quem fica com o nariz gelado, gente e animais. Gosto de quem é grande, molenga e acolhedor. Gente que abraça e enlaça e aquece e desarma. Gosto de gente-moletom.
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